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Desenhar o som, performar a cidade

Mesa redonda, integrada na Conferência Drawing and Performance, em Coimbra 2020

Participantes:

Ana Luísa Valdeira (prelectora) - Doutoranda em Artes, na Universidade de Lisboa. Investigadora do INET-md, FMH / Universidade de Lisboa.

Beatriz Cantinho (prelectora) - Professora auxiliar de artes cénicas da Universidade de Évora. Investigadora do CIAC / Universidade do Algarve. Artista co-fundadora do OSSO Colectivo.

Daniel Tércio (prelector) - Coordenador do polo do INET-md na FMH / Universidade de Lisboa, coordenador do projecto Technologically Expanded Performance

Jonas Runa (prelector) - Investigador do CESEM, FCSH / UNL, co-coordenador do projecto Technologically Expanded Performance

Rui Filipe Antunes (moderação, apresentação dos prelectores e organização do debate) - Investigador do INET-md, projecto Technologically Expanded Performance

 

Palavras chave: 

Design de Performance; Urbanismo Sonoro; Práticas arquitectónicas; Interfaces Urbanos; Práticas espaciais; Património Cultural

 

Resumo:

A Geometria usa pontos, linhas e superfícies para representar o espaço. O desenho parte desta matriz para se expandir, através do gesto, na direção da performance. Em complemento à inscrição de ideias através do traço no papel, a performance permite resgatar a um espaço as suas vozes esquecidas, tornar visíveis as suas histórias escondidas, realçar as texturas que constroem a identidade cultural do lugar. A fenomenologia acrescenta ainda dimensões adicionais à representação. O som, por exemplo, move-se, flui, distorce-se e desvanece no espaço da cidade em interação com as estruturas ou fluxos, orgânicas ou inorgânicas, estáticas ou em movimento. Às categorias espaciais como a altura, a perspectiva, ou a volumetria, acrescentam-se categorias de representação sonora como o ritmo, o timbre ou o ruído. Desenhar a cidade é uma tarefa ampla, que nos pede para pensar largo, desde o esquisso do arquitecto paisagista, aos diagramas do engenheiro de som, ou ainda às práticas performativas in situ. 

Esta mesa propõe uma reflexão sobre o lugar do desenho e da performance enquanto mecanismos interdisciplinares, dinâmicos e centrais para entender as relações espaciais, a habitabilidade e a identidade das cidades. 

1. Ana Luísa Valdeira apresentará a técnica de notação “desenho por pontos” desenvolvida pelo artista norte-americano John Cage, nomeadamente em peças que exploram a arquitetura sonora e a experiência acústica urbana.

2. Beatriz Cantinho centra-se nas estratégias de movimento Situacionista enquanto legado para pensar coreograficamente sobre o movimento dos corpos na cidade e como estas contribuíram largamente para uma nova percepção sobre o espaço urbano e a nossa vivência da cidade. As cartografias situacionistas e a sua proximidade visual e conceptual com pautas coreográficas contemporâneas, as diferentes estratégias de composição de movimento dentro e fora da esfera artística, a performatividade dos corpos na cidade e as relações de poder expressas através do movimento (no espaço e no tempo), permitem-nos afirmar da necessidade de um pensamento coreográfico sobre as diferentes técnicas e estratégias dos corpos em acção e sua dimensão estética, ontológica e politica.

3. Daniel Tércio tenciona questionar como as diversas camadas sensoriais da cidade têm sustentado desenhos de equipamentos urbanos e mapas renovados. Para isso partirá do livro escrito por Francisco de Holanda em 1570, Da Fábrica que falece à Cidade de Lisboa, onde este autor tratava do que era necessário edificar e que faltava à compostura da cidade, dessa cidade que Damião de Góis, alguns anos antes, considerara rainha dos oceanos. Os projectos de Francisco de Holanda para Lisboa incluíam nova muralha, portas renovadas, novos baluartes e bastiões, um paço digno da condição régia, sistemas de distribuição de água, pontes e calçadas públicas e diversos melhoramentos em edifícios religiosos. Era todo um programa de intervenção urbana, desenhado com claras influências italianas, que combinava o culto de uma certa cidade interior – a cidade espiritual de nossa alma – com uma cenografia multi-sensorial.

4. Por seu lado, Jonas Runa apresentará parte do seu percurso artístico, incluindo duas participações na Bienal de Veneza e colaborações com a Companhia Nacional de Bailado, onde desenvolveu técnicas que interligam luz, som e movimento. Tratando a música como uma arte-ciência, discute-se a contemporaneidade científica e cultural como o "fim das certezas"; (Prigogine), onde o ruído é apanágio da desconstrução e da polissemia, das ciências positivas até à filosofia e a arte.