Lisboa 2020, uma cidade confinada. A economia, o tráfego, a agitação, os ritmos dos corpos desaceleraram. Ambas as equipas dos projectos TEPe, em Portugal e no Brasil, encontrámo-nos de repente inibidos fazer as actividades planeadas em conjunto. Consequentemente, tivemos que redefenir a nossa estratégia de estudar o corpo e a cidade e simultaneamente aproveitar esta rara oportunidade de estudar a cidade neste contexto de reduzida actividade económica e motorizada.

No estudo da cidade, a pandemia ofereceu-nos uma rara oportunidade para olhar para a geografia humana da cidade de um ponto de vista privilegiado. As autoridades impuseram restrições ao movimento, com esta limitação formando uma tensão que se tornou um potencial de acção, um quasi-impulso para ir para as ruas. Junto com a ideia de confinamento, um forte desejo de caminhar. 

Mas como falar da experiência da cidade sem falar de biologia e bio-politica? De uma forma paradoxal, a biologia criou o impulso contrário, o medo de caminhar na rua, de partilhar o espaço com os outros, acentuou o medo do outro, do não familiar. Finalmente, com a criação de uma cidade estéril, de reduzida antropofonia, a pandemia criou um ambiente de grande constraste com a cidade que conheciamos acentuando as suas caracteristicas.

Fomos para a rua experiênciar, estar atentes e registar. 

Exercício do momento que passa: para escutar mais, ser mais, em confinamento.

Ou uma caminhada instantânea sem sair do lugar.

Em direção a um mosaico de testemunhos simultâneos.

Uma experiência nómada: deambulação (livre, mas não caótica) pelas ruas da cidade, à medida que o confinamento é menos severo, em regime de caminhada sequencial-diacrónica.

O testemunho a passar é um caderno de capas rígidas, para xs caminhantes anotarem as suas sensações/impressões (cheiros, esquissos, resíduos) mais o que couber na memória do telemóvel de cada qual.

Estar de novo em presença do outro.
Estar novamente presente, de corpo e ossos e cheiro e sons (com máscara)