Pensamento, Criação Artística e Criação Humana
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Como responder ao momento presente implica, do meu ponto de vista, voltar a (Re)Pensar: pensar sobre o acto criativo, sobre o conceito de originalidade humana e na complexidade da dialéctica do mundo da criação artística. Pensar no momento presente e nas relações recíprocas entre a dialéctica da arte: relações ente Arte e Vida, Arte e Natureza, Arte e Filosofia, Arte e Ideal, Arte e Ciência (Ordens criativas, ordens estéticas, ordens naturais, ordens sociais, ordens culturais, ordens éticas, ordens temporais).
(Re)Pensar o sentido de voltar a entrar na proximidade do humano e da natureza. A criação artística representa um outro entendimento do mundo, uma compreensão mais humana – é por natureza humana – porque tem origem no nosso corpo, há um corpo.
A criação que faz transgredir a temporalidade e a espacialidade no sentido do mais humano, no amor à vida; destina-se a proporcionar novos estados de crença, orientando a posição dos novos problemas, realizando assim a estrutura da acção humana. Propor outros caminhos, pela experiência do sentir, porque a arte é de carácter ontológico, a emoção é um movimento do sujeito.
A criação artística distanciou-se da relação com a vida e com a natureza, a criação, enquanto papel mediador entre o passado, o presente e o futuro, enquanto participação no processo de metamorfose do caminho que se constrói, de fazer ver o invisível, enquanto espírito livre que transgride, o domínio do caminho, e faz surgir fruto da intimidade que partilha com a vida, a mesma intimidade que lhe anuncia outra vida.
Tem vindo a suspender a sua vocação de pensar: pensar a vida, o humano, o natural e o social, porque a arte é profundamente uma ocorrência social; tornando-se, em lugar disso, um mero produto de consumo, em muitos aspectos passou a idealizar a alienação do homem e a reduzir-se a um papel entretenimento da vida. Tornando-se incapaz de compreender o momento, desvinculou-se do seu papel ético e ontológico, tornando-se sustentada e sustento do consumo, que a impede ver, pensar, questionar o sujeito, de se expor ao desconhecido à diferença e à incerteza, e, em lugar disso, acentua o movimento dominante.
Representa-se com todas as virtudes desse movimento, mas não apresenta outros. Huberman afirma que os povos estão expostos a desaparecer por estarem ameaçados na sua representação política e estética, e até, como acontece com demasiada frequência, na sua própria existência. Os povos estão subexpostos na sombra da censura a que são sujeitos ou, é conforme mas com resultado equivalente, sobreexpostos na luz da sua espectularização (Didi-Huberman, 2011).
Torna-se necessário (Re)Pensar, o pensar a invenção humana, como Fernando Gil designa, o em-curso e outra maneira de dar forma à vida; porque a vida alimenta-se da novidade incessante da acção criadora, em que o sujeito experiencia a duração criadora (durée créatice) e a obra torna-se contemporânea da acção da vida: abrir, ligar, novas ligações entre criação e vida.
Pensar sobre as verdadeiras questões do ser-humano e essenciais à vida humana, fora da espectacularização e do mediatismo social e económico.
António Oliveira (Mekele University)
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Licenciado em Arquitectura, Escola de Tecnologias Artísticas de Coimbra, 1997. Mestrado em “Estratégias Mentais e Instrumentais da criatividade”, FAUTL, 2004. Doutoramento com o tema “Relearning Architecture – Sense, Time, Place and Technology”, Manchester Metropolitan University, 2016. Professor na Escola Universitária Vasco da Gama, 2004-2011. Professor na Mekele University.