Mapas in versos

 

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Tal como é, no dizer de Panofsky, a perspetiva, a cartografia também é “forma simbólica” da modernidade. Implica, em vários sentidos, uma outra visão do mundo. A síntese operada pelo mapa supõe um pacto de compreensão da imagem que é aparentemente simples e que se autodescreve pela operação de escala numa quase literal compressão: o real reduz-se, proporcionalmente, até caber no papel. Esta porta condensada permite infinitas possibilidades. Pode-se ir e vir do mapa. Entrar e sair de várias maneiras. Como dizem Deleuze e Guattari:

O mapa (...) é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, invertível, suscetível de receber modificações constantemente. O mapa pode rasgar-se, ser virado do avesso, adaptar-se a montagem de qualquer natureza, ser posto em estaleiro por um indivíduo, por um grupo, uma formação social. Pode-se desenhá-lo numa parede, concebê-lo como uma obra de arte, construí-lo como uma ação política ou como uma meditação. Giles Deleuze e Félix Guattari, Mil Planaltos. Capitalismo e Esquizofrenia 2. Lisboa: Assírio e Alvim, 2007, p. 32.

A intenção desta comunicação é tomar literalmente como mote estas observações e andar entre mapas. Mapas feitos por cartógrafos, geógrafos e engenheiros, artistas e não-artistas, adultos e crianças. Mapas desenhados, descritos, escritos, recortados, colados, rasgados. Mapas em pé e mapas deitados, em versos e inversos. Não sabemos ainda quais, nem por onde nos levarão. Passaremos por cidades, ilhas e continentes. Não há um roteiro pré-determinado. Queremos fazer caminho entre os próprios mapas, saltando de um ao outro pelas brechas que formos encontrando. É, deliberadamente, uma caminhada no limite de “estar perdido”. Mas é também uma espécie de ensaio psicogeográfico, em que esperamos ser os primeiros observadores dos fios condutores que nos forem surgindo. Aliás, a analogia do labirinto pode mesmo ser invocada, porque é possível que os caminhos possam parecer enredados e que, em alguns casos, seja difícil encontrar saídas. Entretanto seguiremos...

Renata Araujo (Universidade do Algarve e CHAM, Centro de Humanidades, FCSH-UNL)

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Doutora em História da Arte (FCSH/UNL, 2001), é professora da Universidade do Algarve e investigadora integrada no CHAM – Centro de Humanidades, FCSH/UNL. Tem desenvolvido pesquisa sobretudo nas áreas de história do urbanismo, história da cartografia e estudos de património, com vários trabalhos publicados.

Fernando Pires (DINAMIA’CET – ISCTE Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território)

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Arquiteto formado pela Universidade de Sarajevo (1983) e Doutor em Patrimónios de Influência Portuguesa pela Universidade de Coimbra (2017), é investigador integrado no DINAMIA’CET – ISCTE. Interessa-se por questões relativas à urbanização e formação territorial nos países africanos, estudando especialmente o caso de Cabo Verde.