Lisboa de ontem e de hoje: a memória dos teatros seiscentistas na toponímia lisboeta

 

Os Pátios das Comédias foram os primeiros teatros lisboetas. Localizados em pátios e salões de palácios, ou em quintais rodeados de casas, estes espaços teatrais marcaram a cidade de lisboa de seiscentos e, ainda hoje, são memória através da toponímia das ruas da capital.

Estamos perante uma dezena de pátios construídos, cujas características arquitetónicas e de ocupação espacial têm carácter diferente consoante o espaço onde foram implementados. Uns com uma vertente mais efémera, como no caso das transformações dos salões dos palácios ou dos colégios, uns que marcam uma adaptação do espaço, como se verifica no das Fangas da Farinha, na transformação de um espaço religioso num teatro, e outro que marca a transição entre a arquitetura efémera e a perecível – o Pátio das Arcas (1591-1755). Assim, apresenta-se uma contribuição para o estudo dos Pátios de Comédias lisboetas, com particular relevo para o Pátio das Arcas, o primeiro teatro público permanente da cidade.

Sobre o Pátio das Arcas, interessou conhecer os fundadores e o rasto que deixaram no meio teatral de Lisboa, onde a influência castelhana é evidente e demonstra que os espanhóis dominaram no palco antes de dominarem na política. Fernão Dias de la Torre é o nome que se associa à criação dos Pátios das Comédias em Lisboa.

Nomeado de maneiras diferentes, acreditamos que o nome deste sevilhano seja Fernando Diaz de la Torre Saavedra. Casado com Catarina Carvajal, também ela espanhola, são os protagonistas dos primeiros contratos para a construção de espaços para este fim.

Este pátio situava-se na rua das Arcas, vizinho do Pátio da Betesga, na rua do mesmo nome, do Poço do Borratém, no Palácio dos Condes de Monsanto que ficava atrás do Hospital de Todos os Santos, atribuindo ao Rossio uma envolvente de carácter teatral. Cruzando a Lisboa de hoje e de ontem, iremos localizar os pátios das comédias na planta da cidade e contar a sua história. Reavivaremos a memória teatral, seja através de elementos arquitetónicos que se construíram no mesmo local, como é o caso do teatro da rua dos Condes, ou da toponímia, que definiu o nome destes espaços naquela época e que ainda os mantém presentes. Assim, pretende-se dar a conhecer o teatro de lisboeta de seiscentos através da memória toponímica na atualidade, num contributo para a história da cidade de Lisboa e do teatro em Portugal.

Raquel Medina Cabeças (Instituto de História da Arte da FCSH – Universidade Nova de Lisboa; Centro de Investigação em Ciências da Universidade Autónoma de Lisboa)

 

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Doutorada em História na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL, 2020) e Mestre em Arquitectura (UAL, 2012). Docente do Departamento de História, Artes e Humanidades (UAL). Investigadora integrada no Instituto de História de Arte, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa e no Centro de Investigação em Ciências Históricas (UAL).