Inclusão, Folia e Deficiência no Carnaval de Rua do Rio de Janeiro

 

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No Rio de Janeiro, o mundo dos diversos blocos de “carnaval de rua” tem crescido exponencialmente desde a queda da ditadura do Brasil em 1985. A ética essencial de muitos desses blocos tem sido o compromisso de ser participativo, livre, democrático e inclusive nos espaços físicos da cidade. Diversos movimentos têm concentrado sobre a igualdade de gênero, a justiça racial, a integração de diferentes classes e a crítica política, mas uma ausência notável tem sido um foco sobre a inclusão de pessoas com deficiência. Nas palavras de um participante com deficiência, por ser no espaço público “o carnaval de rua é tão inacessível quanto a própria cidade.” 

Um dos principais blocos “alternativos” do carnaval de rua, a Orquestra Voadora, tem buscado recentemente tornar as atividades do grupo acessíveis às pessoas com deficiência, com o objetivo de provocar uma discussão mais ampla sobre a acessibilidade no carnaval de rua e na cidade no geral. Orquestra Voadora é uma fanfarra profissional de música performática, mas o nome também se refere à sua “oficina”, ou aula semanal dedicada ao ensino da técnica instrumental e do repertório do bloco. A oficina culmina com a performance anual do bloco participativo da Voadora no espaço público do carnaval de rua, criando um enorme conjunto de centenas de pessoas tocando juntas para centenas de milhares de foliões. Desde a primeira apresentação do bloco em 2009, pessoas com deficiência têm participado como músicos e foliões, mas a Voadora carecia de estratégias explícitas para criar um espaço acessível nas suas atividades. Os membros da banda agora reconhecem que suas práticas anteriores foram naturalizadas pelo capacitismo e foram exclusivas para muitos, forçando as pessoas com deficiência que participaram a “superarem” individualmente várias barreiras.

Em 2018, a Orquestra Voadora formou um grupo de trabalho de alguns integrantes da banda, especialistas em acessibilidade, e participantes com deficiência, em parceria com o projeto maior “Accessibilifolia.” Reconhecendo que “deficiência” é uma palavra que engloba muitas diversas realidades, a banda tem procurado adotar estratégias gerais para tornar seus eventos mais acessíveis e também atender às necessidades individuais, respondendo por meio de acomodações, mas visando, em última instância, uma cultura mais ampla de acessibilidade. Com várias adaptações criativas, eles agora promovem ativamente a participação de pessoas com deficiência em todos os elementos das atividades da Voadora.

Em 2021, a Voadora produziu vídeos documentários dessa obra, juntamente com entrevistas com depoimentos de participantes com deficiência. Com base na discussão do projeto apresentado nos vídeos, esta apresentação explorará as estratégias iniciais da Voadora para tornar um bloco de carnaval mais acessível. Subjacente ao seu projeto, está uma demanda maior pelo direito das pessoas com deficiência à festa urbana. Além disso, eles rejeitam um modelo separatista da deficiência nas artes em favor de um modelo inclusivo, que não seja só inclusivo nas margens, mas também exija mudanças estruturais para todos os envolvidos de maneira que criará uma cultura mais inclusiva e solidária para todos os participantes poderem aproveitar melhor as festas da cidade.

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Andrew Snyder (INET-md NOVA FCSH)

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Andrew Snyder é investigador integrado no Instituto de Etnomusicologia na Universidade Nova de Lisboa. Com um interesse no universo global de fanfarras alternativas, ele publicará a sua monografia, Critical Brass: Street Carnival and Musical Activism in Olympic Rio de Janeiro, em 2022 pela Wesleyan University Press.