Imprima seu amor em mim

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A presente comunicação se refere a uma ação performática urbana, realizada em dois momentos distintos na cidade de Fortaleza, Ceará, Brasil. A primeira vez que a ação ocorreu foi durante a festa do Festival Concreto, em 25 de novembro de 2017, na Praça dos Leões, na cidade de Fortaleza. O Festival Concreto é dedicado à arte urbana. Vestida de macacão de proteção hospitalar, luvas, máscara N95 e óculos de proteção (com os dizeres “Imprima seu amor em mim”), a performer Ana Mundim ficou exposta ao longo da festa, para que os participantes a grafitassem, respondendo ao convite estampado em seu rosto. Os macacões foram trocados durante o evento e pendurados em um varal, montado entre árvores da praça. Não houve percurso. A ação ocorreu toda em pausa e durou aproximadamente uma hora e meia. A relação sujeito-objeto se desmembrou em experiências que perpassaram questões de gênero, discussões do corpo enquanto espaço e, ainda, desdobrou a sua própria atuação na medida em que participantes da festa vestiram espontaneamente os macacões do varal para performar.

Três anos se passaram e, com o advento da pandemia, surgiu o desejo de refazer a performance, no novo contexto, uma vez que as vestimentas e aparatos usados eram os mesmos que agora serviam de proteção a médicos e enfermeiros atuantes no combate à COVID-19. Dia 04 de março de 2021, um dia anterior ao segundo lockdown que se instaurou na cidade de Fortaleza, devido à COVID-19, a performer Ana Mundim saiu à Praia de Iracema, vestida com macacão de proteção hospitalar, luvas, máscara e face shield com os mesmos dizeres: “Imprima seu amor em mim”. Em suas mãos, uma caneta pilot, para emprestar ao transeunte, que, porventura, respondesse ao convite escrito em seu rosto. Suas ações consistiam em ficar em pausa e caminhar, e, a partir daí, verificar o que se construiria nas relações com os pedestres. O percurso durou uma hora e não houve troca de vestimenta. Nesta trajetória se delinearam narrativas imaginárias ou presentificadas, produtoras de imagens registradas em vídeo e editadas. O impacto de um corpo com aparatos de proteção acompanhado de um videomaker, em área turística da cidade, gerou tensões, manifestações, conversas, escutas e deflagrou um conjunto de atuações desdobradas dos estados de ficção e realidade gerados pela prática insistente de um corpo em ação repetitiva, dentro de um espaço urbano delimitado.

As distintas experiências a partir da mesma ação informam como, para além das referências pessoais, também os contextos urbano e histórico interferem no modo como os envolvidos lidam com a prática performática e suas interferências na cena cotidiana. https://youtu.be/vKwYWM_G9hc

Ana Mundim

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Multiartista. Pós-Doutorada (UB). Docente da Graduação em Dança e da Pós-Graduação da UFC. Coordena o grupo de pesquisa Dramaturgia do Corpoespaço e o projeto de extensão Temporal. Integra os grupos Data Science for the Digital Society (Universitát Ramon Llul), TEPe – Technologically Expanded Performance (ULisboa/UFC) e Mulheres da Improvisação.