Gesto, voz e percepção: escuta da materialidade vocal em processos de criação em dança

 

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A proposta é partilhar um fragmento da pesquisa de mestrado da artista e pesquisadora Babi Fontana em desenvolvimento na UNICAMP com orientação da Prof.ª Dr.ª Marisa Lambert, a partir da qual elaboramos a noção de áudio-gestos. O ponto de partida desta investigação foi o conceito de gesto e o estudo da corporeidade proposto por Hubert Godard, desenvolvido também por outras/os artistas/pesquisadores, como a coreógrafa brasileira Dani Lima, com a qual Babi desenvolveu relações colaborativas. O interesse da mestranda, na continuidade desta pesquisa que se estende desde 2012, expandiu-se para o estudo do gesto da voz, motivada inicialmente por memórias e vivências de proximidade com sua avó, Maria do Carmo Bauer, professora de técnica vocal na USP, fonoaudióloga e uma das precursoras da profissionalização do preparador vocal no Brasil na década e 1970, que, acometida por acidente vascular cerebral (AVC) aos 80 anos, foi diagnosticada com afasia, perdendo a capacidade de falar em seus últimos anos de vida.

Esta experiência levou ao desenvolvimento do procedimento de colecionar vozes, principalmente de artistas latino-americanxs, e dançar a partir de seus gestos sonoros. Em 2018, o cenário político de ascensão de um governo autoritário no Brasil, e em países da América Latina (como em outros centros e continentes), motivou o recorte para o registro de coleções que lidavam poeticamente com a sensação presente de ruir, cair, colapsar, romper, esquecer e lembrar – verbos surgidos no início da pesquisa de mestrado e que nos acompanham até hoje. Deste processo de prática artística contínua, nasceu a dança-instalação Colisões.

A metodologia utilizada nessa criação, que depois se desdobrou em outros trabalhos de danças, instalações e em um podcast que integram a pesquisa em questão, tem sido guiada pela prática e pela autoetnografia, postas em diálogo com as seguintes etapas potencializadoras de reflexões sobre processos de criação em dança, voz e tecnologia: 1) Coleta de vozes como dispositivo relacional e ida para os territórios, reunindo assim uma coleção de vozes e histórias próprias de pessoas e cidades; 2) Agrupamento dos áudios-gestos – fragmentos sonoros coletados a partir do dispositivo relacional; 3) Composição de danças, instalações e podcasts enquanto campos estéticos de experimentação, espaços criativos de integração do gesto, voz e tecnologia, concepções de comunicação, fontes de leitura e performatividade entre gesto e voz.

Como construir espaços de dança a partir da escuta da materialidade vocal, despertando as faculdades de percepção, mobilizando a criação de novas subjetividades e corporeidades? Como mover-se a partir da escuta sensível e da alteridade, carregadas dos territórios dos seus entornos? Essas são algumas perguntas que norteiam a pesquisa. Pretendemos refletir acerca das memórias e das vozes que são indissociáveis dos gestos que nos constituem, social, política e culturalmente, e partilhar alguns áudios-gestos, materiais portadores de experiências vivas, criadores de territórios relacionais, que produzem sinergias coletivas podendo favorecer processos de encontro e experimentação de novas corporeidades.

Babi Fontana (Unicamp)

 

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Artista e pesquisadora brasileira. Mestranda em Artes da Cena (Unicamp/SP) com estágio (Capes/Print) na Universidade Paris 8 e pós-graduada em Corpo, Educação e Diferenças pela Faculdade Angel Vianna. Entre seus interesses de estudo-criação estão o gesto, poéticas da voz, feminismos e América Latina. www.babifontana.com

 

Marisa Martins Lambert (Unicamp)

 

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Professora Livre Docente do Departamento de Artes Corporais e do Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena do Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), São Paulo, Brasil. Como professora, artista e pesquisadora, desenvolve um trabalho que entretece a arte da dança e a dimensão humana.