Entre as fraturas do tecido urbano e encantamentos: um projeto sobre a caminhada como prática artística e a performance no mundo em pandemia e pós-pandemia

 

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Com esta comunicação, pretende-se apresentar e discutir um projeto de investigação a ser desenvolvido em contexto acadêmico. O projeto aborda a caminhada como prática artística a ser realizada em dois bairros urbanos à margem de suas capitais e o estudo de obras, artistas e projetos contemporâneos (a partir da década de 1990 em diante) que usam o ato de caminhar para criar performances. Trata-se de uma pesquisa artística e teórica que pretende envolver a arte participativa em que o público, anteriormente concebido como espectador, agora é reposicionado como “co-produtor ou participante” e o artista é concebido como “colaborador e produtor de situações” (Bishop, 2012). Objetiva-se assim, de um lado, a realização de inscrições (Lucas, 2008) – sejam elas criações artísticas, jogos, intervenções, vídeos, narrativas, diagramas, mapas, notações, desenhos, sonoridades e fotografias –, partindo da caminhada e da relação com o espaço urbano; e, de outro, a pesquisa de obras, artistas e projetos que cruzam a caminhada como prática artística em seu teor exploratório, político, ambiental, social – seja na articulação de ações coletivas, seja em sua dimensão poética e performativa. A pesquisa parte da escolha de duas localizações geográficas específicas: o Bairro dos Pimentas, região leste da Grande São Paulo, pertencente ao município de Guarulhos (Brasil), e a Quinta da Princesa, bairro que se situa no Concelho do Seixal, Distrito de Setúbal, área metropolitana de Lisboa (Portugal). Pretende-se experienciar o contraste e as diferenças de escalas e posicionamento regional, infraestruturas e interrupções espaciais, tanto visíveis quanto invisíveis, desses lugares, ambos à margem. A Quinta da Princesa e o Bairro dos Pimentas, mesmo com todas as suas diferenças e contrastes, seriam então exemplos de periferias em que a caminhada nos exigiria uma improvisação corporal, não-linear, a produção de experiências sensoriais que coagem o corpo a andar em estados não-familiares, com possibilidades de perigo e materialidades inusitadas, mas também lugares com a possibilidade do encantamento, como concebem os escritos de Jane Bennett (2001). Dessa forma, deseja-se compreender o que é possível formar e criar a partir das caminhadas e das criações que serão feitas em relação com o espaço público, possibilitando a construção de cidades menos desiguais, mais autênticas e inclusivas, novas identidades e histórias, como linhas de fuga dos eventos e narrativas conhecidos (Olsen, 2015). Que possamos ainda pensar o mundo pandêmico e pós-pandêmico, iluminar o social e os problemas, à luz da crise ambiental, do que se designa Antropoceno. Uma hipótese que se desenha sobre isto é que a caminhada artística nos daria um entendimento que não seria nem estético e nem político, mas uma articulação entre ambos.

 

Maíra Santos (CET-ULisboa)

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Maíra Santos. Coreógrafa, Bailarina e Professora. Doutora em Dança pela FMH-UL. É membro integral do Centro de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa (FLUL), pesquisadora do grupo EPHALA (Unifesp). Pós-Doutoranda em Dança pela FMH-UL. É co-coordenadora e bailarina do grupo Raiz Teatro – Teatro Laboratório Português.