Dança e Cidade: escutas e presenças do agir em dança nos espaços urbanos

 

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A presente proposta de comunicação parte das investigações da minha pesquisa de mestrado, recém finalizada, no PPG do Instituto de Artes da Unesp-SP. Nela investigou-se a experiência artística da Cia Damas em Transito e os Bucaneiros (2006-), grupo de dança contemporânea paulistano, no qual atuo e sou uma das fundadoras. A Cia. iniciou seus trabalhos em janeiro de 2006, dentro do Estúdio Nova Dança (1995-2007), local expoente das pesquisas em artes cênicas em São Paulo. Há quinze anos, o grupo compreende-se como um espaço de criação coletiva e colaborativa, e vem desenvolvendo continuamente uma pesquisa sobre improvisação em dança e música, contato improvisação, a dança em espaços urbanos e espaços cênicos alternativos.

No recorte proposto para esta comunicação, tratarei de seu agir composicional na cidade a partir das ações performativas realizadas nas ruas de São Paulo (principalmente na região central) durante o processo de criação do espetáculo Espaços Invisíveis (2013), dentre elas, “Pequena dança no ponto de ônibus”, “Esperar – duas cadeiras e um tapete”, “Ser Carregada”, “Tocando e ouvindo a cidade”, entre outras. Com as ações, estávamos interessados em investigar visibilidades e invisibilidades dos corpos e da dança, urgências que se apresentaram a nós a partir das derivas na cidade. Buscando a partir de sensorialidades e das percepções corporais da dança, gestar apropriações e experimentações dos/nos espaços, na relação com o espectador-passante e seus modos de habitar os espaços urbanos.

Em “Ser Carregada”, duas pessoas carregam uma outra que entrega o peso de seu corpo ao suporte das outras duas. Em nossa experiência, essa ação provocou uma estranheza, dissonância, instaurou outro ritmo, talvez a vulnerabilidade não habitual ou colocada em foco criou um desconforto, uma interrogação; o centro da metrópole paulistana é território de violências, de encontros e disputas. Assim, para refletir sobre os fazeres do grupo nos espaços urbanos partimos de princípios de escuta e contato expandido entre lugares e pessoas, além de recorremos aos apontamentos do geógrafo Milton Santos (2014), ao olhar para as cidades como lugares de coexistências, e a lentidão como possibilidade de propor novas perspectivas para habitá-las, escapando dos ritmos acelerados hegemônicos. Bem como às reflexões sobre “corepolítica” e “política de chão” trazidas por André Lepecki (2012), ao atentar que a ressonância coconstitutiva entre lugares e danças, estão igualmente em relação ao horizonte do chão dos acontecimentos concretos das cidades.

As ações performativas propostas procuraram desestabilizar sentidos e utilidades na metrópole (latino-americana), ao gerar estranhezas em fluxos estabelecidos, aqueles que determinam movimentos e permanências; regimes cinéticos predeterminados delimitados por um poder de controle e vigilância que definem jeitos de agir no espaço, em uma frenética e constante agitação urbana. Investimos em uma estética relacional, procurando criar oportunidades de convívio entre corpos dançantes, espectadores e habitantes da cidade. Nesse espaço de coexistências, as danças no espaço urbano podem ser exercícios de novos modos de habitar e estar no urbano, como pronúncias no/do mundo. Assim corpos-sujeitos que se pronunciam e encontram os discursos-corpos nos espaços da rua, friccionam seus discursos-danças com as pronúncias da cidade.

Clara Gouvêa do Prado (Instituto de Artes - UNESP/SP/BR)

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Artista da dança, professora e pesquisadora. Tem como focos de pesquisa a improvisação, a composição, as práticas somáticas e dança em espaços urbanos. Mestre em Artes pela UNESP-SP. Graduada em Dança pela UNICAMP. É integrante e fundadora da Cia Damas em Trânsito e os Bucaneiros. E atua na Balagandança Cia.

Lilian Freitas Vilela (Instituto de Artes - UNESP/SP/BR)

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Artista da dança, pesquisadora de práticas corporais contemporâneas e docente na área de Artes Cênicas na Universidade Estadual Paulista (UNESP). Doutora pela UNICAMP. Formada como educadora do movimento somático-SME pelo sistema BMCSM (Body-Mind Centering). É autora de livros e artigos publicados na área de dança, artes cênicas e educação.