Alento e práticas de incorpOração

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Propõe-se comunicar o processo e a experiência de criação da Obra Alento, na qual se habitou a Floresta de Monsanto, pulmão da bioregião da cidade de Lisboa, ao longo de quatro anos, enquanto lugar de inspiração, laboratório de pesquisa coreográfica, bem como de apresentação, formações e partilha de ideias.

A partir do tema da respiração, enquanto alimento e movimento do “espírito” da vida, a obra Alento explora e investiga o segredo latente na substância da qual somos feitos. O corpo enquanto um “pedaço de natureza” a ser redescoberto pelo habitar da consciência no seu movimento. Que caminhos se abrem quando escutamos o percurso da vida, por territórios exteriores e interiores?

Continuando o desenvolvimento da linguagem coreográfica a partir das diferentes etapas alquímicas e sob o seu enquadramento enquanto processo de transformação, é desenvolvido o discurso do corpo em diálogo empático e inter-relacional com a Floresta, reconhecendo-a como porta de entrada para a dimensão do “Ser” e enquanto entidade/organismo vivo da qual fazemos parte.

Alento é uma substância volátil misteriosa, que sustenta o corpo, anima o espírito e estabelece o elo com esse grande corpo que é o mundo. A obra é constituída por várias partes, que foram alternativamente apresentadas em florestas e teatros. Diferentes capítulos foram apresentados em diferentes formatos, a partir de temas, perguntas de pesquisa ou lugares singulares no contexto natural. Foram criados dois fascículos performativos, “Alento” (2019) e “Corpo Anímico” (2021) que constituem em conjunto com outros três capítulos, nomeadamente Capítulo I | IncorpOração – Estudo coreográfico sobre o reconhecimento de um lugar vivo (2018), Capítulo II Emersão | Reaparecimento do ser que se eclipsara (2019) e Capítulo III Episódios de Transformação (2019) – Estufa Fria, constituem a Obra Alento.

Procura-se uma prática artística e de conhecimento alternativa à visão puramente dualista e de separação sujeito-objecto, homem-natureza, mente-matéria.

Um senso de profunda ligação com o mundo vivo, com os outros, com o nosso próprio corpo e com o ser maior ao qual o nosso ser individual em sua natureza profunda está ligado ou mesmo coincide (conceito yóguico de Atma) é o derradeiro antídoto para a ansiedade ontológica ou terror existencial que o ser humano de hoje em dia vive.

Enquanto prática de investigação, e criação de uma nova linguagem e relação com o público, procura-se contribuir de forma responsável para a emersão de uma consciência holística de que somos participativos e partes deste corpo maior que é o próprio planeta.

Pedro Ramos

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Diretor Artístico da Ordem do O. Coreógrafo, Bailarino, Investigador, Artista Visual, Músico/Cantor, Professor de Dança e Hatha Yoga. Lecciona Oficina de Corpo na licenciatura de Teatro na Escola Superior de Arte e Design das Caldas da Rainha. Desde 2018 que tem desenvolvido as suas criações no contexto da floresta. www.ordemdoo.com