A cidade caminhada. O caminhante e a experiência perceptiva do ambiente urbano

 

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Cada ato de caminhar consiste numa fusão corporal e temporal entre o indivíduo e o território, entre o indivíduo e o todo que é a cidade.

Considera-se, assim, abordar o caminhar não como um deslocamento na cidade, mas antes como uma ação composta pelo caminhante e o meio; uma experiência holística continuada do meio, que se estende ao longo do espaço e do tempo, e através da qual cada pessoa conhece e constrói uma realidade.

Aborda-se a relação entre os conceitos de experiência e ambiência.

Embora ambiência seja um conceito não preciso, imaterial, de difícil delimitação, esta existe enquanto fenómeno sensível que se espalha e impregna, que envolve, integra, que se comprova, que liga e que estimula.

Os ambientes complexos acedidos são percepcionados de um modo seletivo e direcionado; uma escolha ativa de modalidades sensoriais, percepcionados à luz das atividades aí executadas.

O caminhar é ter o corpo sensorialmente ativo em contacto com o espaço, é a fusão da abordagem sensível com a abordagem reflexiva, pensada. Serão abordados os processos cognitivos associados ao caminhar, com destaque para a particularidade da experiência perceptiva/cognitiva em movimento.

O motivo por que se caminha, ou a lógica associada ao caminhar, afecta os aspectos que se destacam ou valorizam no espaço. As especificidades da experiência, ou seja, o seu propósito, o modo específico de a concretizar e o significado da mesma, são factores determinantes nos atributos percepcionados e significados associados.

Faz-se uma breve reflexão sobre diferentes tipos de caminhantes, ou caminhares e o modo como geram diferentes tipos de atitudes perceptivas na relação entre indivíduo e meio.

Com base na exploração teórica e com o intuito de racionalizar e operacionalizar o conceito de ambiência urbana experienciada pelo uso caminhado, é proposta uma metodologia de recolha de apreciações da ambiência urbana percepcionada.

Pretende-se assim contribuir para o entendimento da experiência caminhada na cidade e o modo como esta influi na ambiência urbana realizada.

Maria João Monteiro Gomes (Cics.Nova)

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Arquiteta paisagista (UTL-ISA), mestre em Ecologia Humana (Universidade de Évora) e doutorada em Estudos Urbanos (UNL-ISCTE). As atuais principais áreas de investigação e/ou intervenção são o espaço público enquanto lugar, a produção social do espaço, a identidade da paisagem. É dinamizadora da plataforma multidisciplinar Urbanologo (www.urbanologo.com)